Mais uma "crónica":
"Ela faz as malas para ir ao encontro dele, para partir de vez, tomando um novo rumo. Arruma as suas coisas, faz as malas e, enquanto o faz, vai pensando na decisão que tomou e a aventura que isso representa. Conhece-o há poucos meses mas só tem uma certeza, de que não pode viver sem ele. Por isso prepara-se para uma longa viagem, a maior que jamais empreendeu, a de uma vida nova. Sente-se dividida entre a excitação da felicidade e o medo do desconhecido. O seu coração bate num frenesim, as mãos tremem de nervos, o espírito anima-se de coragem, procurando não pensar em tudo o que poderá correr mal e só querendo prender-se à certeza de felicidade que a espera. Diz a si própria que a decisão está tomada e não vai permitir-se desanimar com pensamentos negativos, derrotistas.
Entra pela madrugada ocupada com as arrumações de última hora e, quando se dá por satisfeita, vai tomar um duche demorado com um sorriso nos lábios. É bom saber que tem tudo pronto, pois fá-la sentir-se preparada. Deita-se tarde. É a última noite nesta casa, nesta cidade. deita-se cansada mas demasiado excitada para adormecer, de maneira que vai até de manhã a sonhar acordada com a vida que tem pela frente e só cai no sono quase á hora do despertador anunciar a hora marcada. Acorda ensonada e com o mesmo cansaço pendente da noite passada, mas encorajada pela promessa da novidade.
Olha para trás antes de fechar a porta de casa, observando os resquícios dos últimos anos, os móveis, os quadros, tudo aquilo que lhe parece ter sido uma vida inteira, um lugar onde se sentia segura. Deixa escapar um suspiro, abana a cabeça como quem se questiona o que é que eu vou fazer, faz um sorriso desafiador, fecha a porta e parte.
Atravessa o país a dormitar com a cabeça apoiada no braço, á janela, enquanto o comboio avança. Mais para o fim da viagem já está bem desperta e nervosa, numa ânsia de expectativa. Quanto mais perto do destino mais se pergunta se não terá cometido um erro, se não se terá precipitado, se não voltará a falhar, se, se, se...
Desce do comboio com duas malas, avança a custo ao longo do cais, lutando com a própria bagagem, tropeçando nela, sem saber se é isso que a irrita se é o receio que a enerva.
Mas depois avista-o lá ao longe no fim do cais e ele avança para ela sorridente e, quando se encontram, abraça-a, beija-a e diz-lhe que bom que é estares aqui finalmente, e, nesse instante, todos os receios, dúvidas, nervos, se dissipam num encantamento, numa certeza de que tomou a decisão correcta."
Suponho que foi isto que se passou contigo.... Sê Feliz!
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