welcome

partilhem!

segunda-feira, 16 de março de 2009

"Duas Conchas"

Comentei o texto de um amigo, com este texto. Não é meu, mas na altura em que o li pela primeira vez... Teve um significado tão importante e tão bonito e ao mesmo tempo tão real que o quis colocar aqui... Apesar de os motivos já não serem os mesmos, o texto continua a ser muito bom.

"Não havia vento, não havia ondas, nem uma brisa se sentia naquele recanto de mundo a que alguém um dia chamou de praia.
Era cedo, muito cedo, a manhã estava com um céu azul tão brilhante que o mar sentia-se envergonhado por naquele dia não ter semelhante cor, mas ao mesmo tempo sentia-se protegido... Mas não aquela concha que nessa manhã deu à praia (vamos chamar-lhe de A).
Mas não estava só... Lá ao longe outra concha (a que vamos chamar de G) vislumbrava aquele acontecimento... A chegada de mais uma concha àquela praia.
Todos os anos este invulgar evento ocorria, este ano pertencia a A e a G. Elas (as conchas) eram lançadas no alto mar por alguém (a que vamos chamar de destino) e as duas primeiras conchas a alcançar aquele aglomerado de torrões de terra, viviam para sempre felizes.
Mas desta vez e infelizmente as coisas não acabavam com um final feliz... Não desta vez. Para G era a primeira vez que acontecia esta aventura... Para A... Também. Contudo não seria a primeira vez que aquelas conchas se encontravam... Aquele olhar trocado entre ambas dizia tudo... De certeza que em outra realidade já teriam partilhado confidências.
Este dia foi marcado por alegrias mil entre as duas conchas. Foi um dia de sussurros, de brincadeiras, de alegria partilhada, de maneiras iguais de ver o mundo e até várias cusquices sobre ele e sobre a vida, (a curta vida delas). G transbordava de alegria, tanta... Tanta que poderia o mundo acabar ali aos seus pés que ele viveria para sempre feliz para onde quer que fosse. O dia passou num ápice (rápido demais mesmo...) e G reparou que A estava quase desfalecida, o longo caminho percorrido até alcançar aquela praia era a razão. G na sua simplicidade/cortesia, segurou em A e delicadamente deitou-a num leito de algas verdes (construídas por si)... Umas lindas algas verdes que davam cor de esperança aquele lugar. Passaram-se vários dias e A não melhorava. O dia de G era preenchido a tentar animar aquela outra concha. Ele contava histórias, desenhava na areia lindas figuras só para a animar, procurava os melhores raios de sol para aquecê-la e quando ficavam fortes demais... Procurava a melhor sombra.
G sentia-se contente por estar a ajudar, sentia-se útil, preenchido, alegre como uma criança traquinas, mesmo não tendo de A... Qualquer gesto de ternura. Mas G não desistia, considerava que lhe estava destinado aquela sua maneira de ser útil. Que engano, que engano ele estaria a cometer, mas também... Não havia naquela imensidão de praia quem lhe ouvisse e ele não sabia falar nem com o mar nem com o vento, habitou-se a viver daquela forma.
Certa manhã A acordou muito melhor, G não viu... Foi a brisa que lhe disse porque ainda continuava a dormir. A noite passada à procura de pauzinhos de madeira secos para fazer uma pequena fogueira e aquecer A, havia-lhe tomado as forças.
A levantou-se e olhou para G, mas nem lhe tocou... Não sabendo bem porquê, retirou-se devagarinho sem barulho, nem mesmo amparou aquele manto de algas por cima de G para lhe aconchegar o sono... Como ele lhe fazia todas as manhãs. Sem destino caminhou sempre em frente e conseguiu sair daquele lugar, sem nunca olhar para trás... Como poderia ser? Como? Então não existiu nem um pingo de sentimento? O brilho do Sol a tocar ligeiramente o mar fez desvanecer aquela figura aos poucos até ao ocaso total.
Já o Sol estava alto quando G acordou e olhando para todos os lados procurou por A muito preocupado... Tinha receio que o frio e o vento da noite passada lhe tivessem levado, estando ela tão fraca. Mas com o decorrer do dia, das semanas, dos meses, reflectiu interiormente que nunca mais veria a sua alma gémea. Todo esse tempo fez com que aprende-se a falar com mar e mesmo com o vento que lhe apresentou à estrelas, mas também elas não sabiam o porquê de A ter partido. Por vezes tem a noção de a ouvir ao longe a dizer: “estou aqui, estou aqui”...
Mas de seguida tal momento desvanece-se com mais um pôr-do-sol. É apenas um engano momentâneo. G passou a ser mais uma daquelas conchas a que nos habituámos a pisar quando percorremos a praia, foi apenas mais uma e... Ele que queria ser diferente... Conta-se que... Ao luar ainda a procura ao longo daquela praia escrevendo frases banais na areia como: “Onde andas?”, “Não te escondas”...
À procura de uma saída daquele sítio porque sozinho não consegue, não consegue mesmo, porque... Falta-lhe um A.

de Rui Maloveci"

E não é que o A falta mesmo? Partiu quando teve de partir e não mais regressou...

4 comentários:

  1. Conheço muito bem este texto. ;)

    Não sendo um original teu, retrata bastante bem o que se passa com algumas situações, bem reais. :)

    Excelente bom gosto! Como sempre...

    ResponderEliminar
  2. Sim... Nisso concordo contigo! Considero-me com um excelente bom bom gosto!! Nada de modéstia, não é mesmo?! :p

    ResponderEliminar